A cavalgada que tomou as ruas de São Miguel do Oeste nesta sexta-feira (19) abriu, com clima de festa campeira, as celebrações do Dia do Gaúcho. O desfile a cavalo, organizado pelo CTG Porteira Aberta em parceria com o Grupo de Cavalarianos, reuniu participantes do município, de comunidades do interior e de cidades vizinhas, como Guaraciaba, reafirmando um traço cultural que segue vivo na região.
Para garantir a presença de mais cavalarianos e evitar choque com outras atrações, a organização decidiu antecipar a atividade em um dia — a data oficial é sábado (20). A estratégia funcionou: o grupo saiu da sede central do CTG, no coração da cidade, percorreu diversas vias urbanas sob o olhar atento de famílias nas calçadas e seguiu rumo à Linha Gramadinho, onde fica a sede campeira. O roteiro uniu simbolicamente o centro urbano ao campo, dois cenários que moldaram a história local.
O que mudou no cronograma e por quê
Segundo a patrona do CTG Porteira Aberta, Cleusa Marconatto Kochhann, a alteração de data buscou facilitar a participação de quem trabalha no comércio e também preservar a programação cultural marcada para a rua coberta da Praça Central no sábado. Em outras palavras, a cavalgada ganhou um dia só dela, sem dividir espaço com shows, oficinas e apresentações previstos para o fim de semana.
O ponto de partida foi a sede urbana do CTG, referência para quem vive a tradição na cidade. Dali, os cavalarianos seguiram em compasso cadenciado pelo traçado central, antes de tomar a estrada em direção à Linha Gramadinho. Não houve divulgação de número oficial de participantes até o fechamento desta reportagem, mas a presença de grupos do interior e de municípios vizinhos indica uma adesão consistente, típica deste tipo de evento no Extremo Oeste.
A chegada à sede campeira tem peso simbólico: é o território onde o CTG mantém práticas tradicionais, preserva a cultura do cavalo e promove atividades que conectam gerações. Pilchas bem cuidadas, lenços ao vento, mate passando de mão em mão e bandeiras erguidas compuseram a cena que, ano após ano, reaparece como um lembrete de origem e pertencimento.

Tradição que atravessa gerações
A cavalgada integra uma linha do tempo que começou em 1966, quando ocorreu a primeira edição do desfile em São Miguel do Oeste. De lá para cá, quase seis décadas de encontros sobre o lombo do cavalo fizeram da data um ritual comunitário. Como destacou Cleusa, a continuidade do evento tem função dupla: celebra o Dia do Gaúcho e, ao mesmo tempo, sustenta um trabalho de base para manter viva a herança campeira em um território catarinense fortemente marcado por migrações do Rio Grande do Sul no século passado.
Essa herança aparece no cotidiano dos CTGs: aulas de danças tradicionais, declamação, música nativista, jogos de laço, roda de chimarrão, e a educação dos mais jovens para o trato com o cavalo e para o respeito às regras de bem-estar dos animais. Na cavalgada desta sexta, chamou atenção a presença de famílias inteiras — adultos experientes lado a lado com crianças e adolescentes —, um sinal claro de renovação.
A antecipação também liberou a agenda de sábado para a programação cultural na rua coberta da Praça Central, anunciada pela prefeitura e por entidades tradicionalistas. Atividades típicas desse calendário costumam incluir apresentações de invernadas artísticas, declamação, música, oficinas de indumentária e gastronomia regional. Para quem acompanha o tema, é a chance de ver em um único espaço manifestações que, no interior dos CTGs, se espalham ao longo do ano.
Entender o significado da data ajuda a dimensionar o que se vê nas ruas:
- O que se celebra: o 20 de setembro, marco da Revolução Farroupilha (1835–1845), transformado em referência de identidade cultural do sul do país.
- Símbolos: a pilcha, a Chama Crioula, o cavalo como parceiro de trabalho e de vida, a música nativista e a culinária campeira.
- Como se comemora: com cavalgadas, acampamentos, fandangos, apresentações artísticas e ações educativas nas escolas e nos CTGs.
- Por que importa aqui: o Extremo Oeste catarinense tem raízes gaúchas profundas; muitos moradores descendem de famílias que migraram do RS, e a tradição seguiu com eles.
Em São Miguel do Oeste, essa combinação de história e prática comunitária ajuda a explicar por que a cavalgada mantém fôlego. Não é só um desfile: é um encontro anual de memória, trabalho e afeto. Ao atravessar o centro e alcançar a Linha Gramadinho, os cavalarianos reencenam a própria formação da cidade, onde o rural e o urbano se reconhecem e se completam.
Com o desfile realizado, a expectativa se volta agora para as atividades de sábado na rua coberta da Praça Central. A programação cultural promete movimentar famílias e visitantes ao longo do dia, reforçando um circuito que vai do asfalto às coxilhas — e que, há quase 60 anos, encontra no cavalo e no CTG Porteira Aberta seus aliados mais fiéis.
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