Quando a Disney anunciou, em 17 de setembro de 2025, a suspensão indefinida de "Jimmy Kimmel Live!", poucos imaginavam que o gesto – motivado por comentários do apresentador sobre o “gangue MAGA” e o tiroteio que vitimou Charlie Kirk – se transformaria em um terremoto nas salas de diretoria e nos corredores do Capitólio.
Suspeita de violação de dever fiduciário
Um grupo de acionistas, composto pela American Federation of Teachers (filial da AFL‑CIO) e pela organização Repórteres Sem Fronteiras, enviou ao CEO Bob Iger uma carta datada de 24 de setembro. O documento acusa o Conselho de administração de ter colocado interesses políticos acima dos deveres de lealdade, cuidado e boa‑fé exigidos por lei.
Entre as exigências estão:
- cópias das atas de reunião do Conselho durante o período da crise;
- e‑mails e memorandos trocados entre executivos, inclusive Bob Iger, que tratem da suspensão;
- relatórios internos que estimem o impacto da interrupção nos recepites de publicidade e assinaturas;
- qualquer comunicação entre a Disney e órgãos federais ou grupos políticos, como a ameaça de Brendan Carr, comissário da FCC.
A argumentação central dos acionistas é que a empresa cedeu a pressões de emissoras afiliadas – Nexstar Media e Sinclair Broadcasting – que ameaçaram retirar o programa de suas grades, sob risco de retaliações da administração Trump.

Repercussão e consequências financeiras
Em menos de uma semana, o ato provocou reação em cadeia: mais de 400 celebridades assinaram carta aberta condenando o que consideram censura governamental; protestos foram organizados em frente ao El Capitan Theatre, onde o programa é gravado, e na sede da Disney em Burbank. Figuras como Barack Obama, Michael Eisner e atores como Mark Ruffalo e Tom Hanks se manifestaram publicamente contra a suspensão.
O mercado não perdoou. As ações da Disney despencaram, apagando mais de US$ 4 bilhões em valor de mercado. Randi Weingarten, presidente da AFT, enfatizou que “os acionistas merecem saber exatamente o que aconteceu nos bastidores, especialmente após a ameaça de punição da FCC”.
Na terça‑feira, 24 de setembro, a Disney reverteu a decisão, alegando que a suspensão inicial foi feita para "evitar inflamar ainda mais a situação num momento emocional para o país". Contudo, relatórios internos apontam que Jimmy Kimmel se recusou a pedir desculpas, alegando que suas palavras estavam sendo "deturpadas" e que não iria "cobrir-se de submissão à indignação". A Sinclair, por sua vez, teria exigido um pedido de desculpas à família de Charlie Kirk como condição para retomar a transmissão.
O que começou como um debate sobre conteúdo televisivo evoluiu para uma investigação que pode redefinir como grandes conglomerados de mídia lidam com pressões políticas. Se ficar comprovado que a diretoria violou seus deveres fiduciários, os acionistas poderão buscar reparações judiciais e mudanças estruturais na governança da empresa.
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