Quando James Bamford, jornalista americano e autor de quatro livros sobre a NSA, concedeu entrevista à BBC Brasil em 12 de setembro de 2024, ele deixou claro que a espionagem praticada no Brasil não chega nem perto da capacidade invasiva dos Estados Unidos. Bamford, que escreveu o clássico "The Puzzle Palace" em 1982, explicou que as ações brasileiras são "rotina de inteligência", comparáveis ao que o FBI faz dentro do próprio país.
Um panorama histórico da NSA
A agência de segurança nacional nasceu em 1952, mas foi só nos anos 60 que começou a interceptar satélites. Bamford lembra que, na década de 80, a NSA "basicamente escutava telefonemas fora dos EUA". Hoje, segundo ele, a estrutura engloba milhares de antenas, fibra‑óptica e algoritmos de inteligência artificial capazes de vasculhar e-mails, mensagens de aplicativos e até postagens no Twitter.
Em termos de tamanho, a NSA "cresceu enormemente", passando de alguns poucos milhares de funcionários para mais de 35 mil, segundo estimativas do próprio governo americano. Essa expansão permitiu que, em 2013, os documentos vazados por Edward Snowden revelassem programas como PRISM e XKeyscore, que coletavam dados de milhões de usuários ao redor do globo.
Brasil vs. EUA: o ponto de vista de Bamford
Ao ser questionado sobre as recentes revelações de que o Brasil teria realizado contra‑espionagem contra diplomatas norte‑americanos, Bamford respondeu categoricamente: "Não se pode comparar o que a NSA faz com o que os brasileiros fizeram. O que o Brasil fez é basicamente o que o FBI faz nos EUA: seguir diplomatas para ver o que eles estão fazendo. É uma rotina de inteligência, é natural."
Ele ainda destacou que "todos os países do mundo mantêm um olho em diplomatas estrangeiros", mas que a diferença está na escala. Enquanto a NSA pode colocar "um filtro eletrônico nos principais pontos de conexão" para capturar desde chamadas telefônicas até tráfegos de fibra‑óptica, a operação brasileira se limita a observação de movimentos e a coleta de documentos públicos.

O legado de Obama e a ampliação da guerra contra o terrorismo
Bamford apontou que, sob a presidência de Barack Obama, a agência não só manteve o nível de vigilância, como ampliou as ações antiterrorismo. Ele citou o aumento dos ataques com drones no Iêmen –"praticamente inexistentes" durante o governo de George W. Bush‑, e que sob Obama o país virou "modelo a ser replicado na Somália e no Paquistão".
O especialista também sugeriu que Obama "não prestou a devida atenção ao problema" quando assumiu, delegando decisões de inteligência a seus oficiais. A expansão de capacidades de coleta interna, como a vigilância de e‑mails corporativos e das redes sociais dos próprios cidadãos americanos, foi, segundo ele, "uma invasão de privacidade muito maior".
Snowden, Dilma Rousseff e o impacto no Brasil
Os documentos de Snowden mostraram que a NSA monitorava até conversas da então presidente Dilma Rousseff com seus assessores. Bamford explicou que a agência "espiona não só países considerados inimigos, mas também aqueles com quem mantém relações diplomáticas".
Esse fato gerou um debate interno no Brasil sobre a necessidade de desenvolver mecanismos de defesa cibernética. O especialista elogiou os esforços atuais, dizendo que o país tem sido "muito inovador e pró‑ativo" ao investir em criptografia de dados e em sistemas de detecção de tráfego anômalo.

Perspectivas para o futuro da segurança brasileira
Segundo Bamford, a chave está em ampliar a "capacidade de criptografia" e em criar regras claras de coleta de informações. Ele alertou que, se o Brasil não evoluir, "aqueles países que estão desenvolvendo tais mecanismos certamente sairão na frente".
Especialistas em segurança da informação no país concordam, mas apontam obstáculos: falta de investimento contínuo, burocracia e a necessidade de formação de profissionais especializados. Ainda, a legislação de proteção de dados – a LGPD – ainda está em fase de consolidação, o que pode dificultar a resposta rápida a ameaças externas.
Em resumo, a entrevista de Bamford serve como um alerta: a diferença entre "rotina de inteligência" e "vigilância massiva" não é apenas tecnológica, mas também política. O Brasil pode aprender com essas lições e, quem sabe, virar o jogo ao investir em tecnologias de defesa avançadas.
Perguntas Frequentes
Como a espionagem americana afeta empresas brasileiras?
A NSA monitorava tráfegos de dados que passam por cabos de fibra óptica, o que inclui comunicações corporativas. Empresas brasileiras podem ter suas negociações e estratégias estratégicas analisadas por agências norte‑americanas, reduzindo sua vantagem competitiva.
Qual a diferença entre contra‑espionagem e espionagem tradicional?
Contra‑espionagem, como a prática brasileira descrita por Bamford, foca em observar diplomatas e coletar informações públicas. A espionagem tradicional, exemplificada pela NSA, envolve interceptação massiva de comunicações, coleta de metadados e uso de algoritmos avançados para analisar grandes volumes de dados.
O que o Brasil está fazendo para se proteger da vigilância dos EUA?
O país tem investido em criptografia de nível militar, criado centros de resposta a incidentes de segurança cibernética (CSIRT) e fortalecido a cooperação com aliados europeus que também criticam a prática de vigilância em massa.
Por que a NSA expandiu suas operações sob a administração Obama?
Segundo Bamford, Obama buscou uma agenda de governo mais visível e delegou decisões de inteligência aos seus oficiais, resultando em maior uso de drones e em programas de coleta interna que ultrapassaram as práticas de seu antecessor, George W. Bush.
Quais são os riscos de não desenvolver criptografia avançada?
Sem criptografia robusta, dados sensíveis podem ser capturados em trânsito ou armazenados vulneráveis a ataques. Isso expõe setores estratégicos – energia, finanças e defesa – a espionagem estrangeira e diminui a soberania digital do país.
Ah, a magnificência da suprema erudição ao comparar a humilde prática brasileira com a onipotente NSA. É quase poético ver como os nossos operativos se limitam a sondar diplomatas enquanto os yankees operam como deuses do silício. A narrativa, porém, ignora o brilho ínfimo de nossos analistas, que, armados de planilhas, tentam decifrar os passos de um emissário. Não é surpreendente que eles se contentem com "rotina de inteligência" – é o que cabe a um país de dimensões continentais. Enquanto isso, a NSA desdenha da humildade e perfura até o último bit de privacidade global. Em suma, a disparidade não é apenas tecnológica, mas existencial.
outubro 6Cinthya Lopes